Piranhas vive crescimento econômico e expansão de vagas de emprego, mas escassez de mão de obra desafia empresas

Empregadores entendem que informalidade, mudança no perfil das gerações e benefícios sociais contribuem para dificuldades em preencher vagas em setores urbanos, rurais e da construção civil

(Foto: IA/Correio Goiano)

Nos últimos anos, a economia de Piranhas tem registrado crescimento significativo, impulsionado pelo setor agropecuário. Novas empresas foram instaladas no município, incluindo armazéns de grãos, cooperativas agropecuárias e de crédito, lojas agropecuárias, revendedoras de máquinas agrícolas, lojas de materiais de construção e um grande posto de combustíveis. Além disso, empreendimentos já estabelecidos ampliaram suas estruturas e suas produções.

Esse movimento gera um efeito cascata, onde a instalação e ampliação de unidades produtivas aumentam a necessidade de serviços complementares, como construção civil, transporte, logística, manutenção de máquinas, abastecimento de insumos, alimentação e comércio de varejo para atender os trabalhadores. Cada nova empresa movimenta toda a economia local, criando mais empregos diretos e indiretos, crescendo a demanda por profissionais em múltiplos setores.

De acordo com a plataforma Caravela, apenas de janeiro a maio de 2025, Piranhas registrou 15 novas empresas, número que se aproxima do total do ano anterior, quando foram abertas 22 novas empresas. Com o aumento das empresas e das expansões, cresceu significativamente o número de vagas de emprego.

No entanto, empresas de diferentes setores têm enfrentado dificuldades para preencher essas oportunidades. Apurações realizadas por esta reportagem mostram que empresas urbanas e rurais alegam diversos motivos que explicam a situação. Empregadores têm realizado anúncios em diferentes meios de comunicação, mas muitas vagas continuam abertas em supermercados, farmácias, restaurantes, lojas, postos de combustíveis e empresas do setor agropecuário.

A Centro Oeste Laticínios, maior empregadora do município, enfrenta dificuldade constante para preencher seu quadro de colaboradores, mesmo oferecendo benefícios como plano de saúde, vale-alimentação e premiações por desempenho. No momento da publicação desta reportagem, a empresa possuía 17 vagas disponíveis.

Outro exemplo é o Expresso Auto Posto, inaugurado em junho, que pretende operar com até 200 colaboradores em sua estrutura, que inclui restaurante, loja de conveniência, academia, lavanderia, cinema, barbearia, borracharia e bazar. Desde o início das operações, a empresa mantém vagas abertas em todas as áreas.

Segundo Dermison Ferreira da Silva, proprietário da Líder Materiais para Construção, a dificuldade é generalizada. “Estamos vivendo um momento muito difícil, em que parece que as pessoas não querem se comprometer com o trabalho. A situação precisa mudar, ou ficará inviável”, disse.

Dermisson, que também atua como produtor rural, comentou que o cenário no campo é ainda mais crítico, seja na agricultura ou na pecuária. “A maioria dos que trabalham na zona rural hoje em dia são aqueles que já estão no campo desde bem jovem e eles já estão com a idade mais avançada. Se não houver renovação e interesse nesse tipo de trabalho, não sei como será o futuro do setor agropecuário sem mão de obra”, ponderou.

A escassez de trabalhadores também afeta a construção civil, que enfrenta dificuldades para encontrar profissionais para as obras em andamento no município.

Empresários ouvidos pelo Correio Goiano apontam que a falta de mão de obra registrada decorre, em parte, da informalidade. Em vez de buscar empregos formais, muitas pessoas optam por atividades autônomas, especialmente no comércio e na prestação de serviços.

Outro fator relevante apontado é a mudança no perfil das novas gerações. Parte dos jovens não se interessa mais por atividades tradicionalmente fortes, como agricultura, indústria, atendimento no comércio ou construção civil. Há maior procura por ocupações digitais, flexíveis e conectadas, que não exigem horário fixo ou deslocamento diário até o local de trabalho, tornando o trabalho formal em setores tradicionais menos atrativo.

Além disso, o aumento de benefícios sociais do Estado e do Governo Federal também foi citado pelos empresários como um elemento determinante para a escassez de trabalhadores. Muitos benefícios – como o Bolsa Família, programas estaduais de transferência de renda e isenções de tarifas de energia e água — são vinculados à renda declarada. Diante disso, o trabalhador teme ultrapassar os limites de renda e perder esses auxílios ao aceitar um emprego formal.

“Muitas famílias recebem mais de um benefício social e preferem mantê-los, complementando a renda com um trabalho informal que não exige compromisso fixo”, afirmou um empresário do setor agropecuário ouvido pelo Correio Goiano.

Segundo o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Piranhas possui 11.712 habitantes. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) indicam que, até maio de 2025, o número total de empregos formais girava em torno de 1.800, com salário médio de R$ 2,7 mil. A comparação entre população e empregos formais revela que menos de 16% da população está inserida no mercado formal. Entre os setores que mais empregam na cidade estão a administração pública, com 389 vínculos; a indústria de laticínios, com 267 trabalhadores; e a pecuária de corte, que mantém 166 postos formais.

 

Por Jotta Oliveira – do Correio Goiano

Postar um comentário

0 Comentários