Consumo de álcool durante a gravidez pode causar transtornos em bebês que podem ser confundidos com autismo, aponta pesquisa

Pesquisa da PUCPR aponta que o consumo de etanol durante a gestação compromete a formação de redes neurais e reforça os riscos do Transtorno do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF)

(Foto: Reprodução)

Um estudo realizado por pesquisadores do Laboratório de Bioinformática e Neurogenética (LaBiN), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), reforçou os graves riscos do consumo de álcool durante a gravidez para o desenvolvimento do cérebro dos bebês. A pesquisa confirma que a exposição ao etanol (EtOH), principal componente das bebidas alcoólicas, pode comprometer o neurodesenvolvimento e provocar o Transtorno do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF), um conjunto de deficiências físicas, mentais e comportamentais.

O estudo mostrou que o EtOH altera a organização da cromatina — estrutura responsável por compactar o DNA — e prejudica a formação de redes neurais funcionais no cérebro em desenvolvimento. Segundo os pesquisadores, essa exposição afeta tanto a formação quanto a atividade dessas redes, que são essenciais para o funcionamento cognitivo e comportamental ao longo da vida.

“Estudos anteriores já demonstraram que o consumo de álcool durante a gravidez pode levar a distúrbios conhecidos como Transtorno do Espectro Alcoólico Fetal, que incluem deficiências físicas, mentais e comportamentais, que inclusive se confundem com o autismo, especialmente em crianças pequenas. Nos Estados Unidos, estima-se que 1 em cada 20 nascimentos seja afetado pelo TEAF, mas não há dados concretos sobre a incidência no Brasil”, explicou o pesquisador e coordenador do LaBiN, Roberto Hirochi Herai, em entrevista á Agência Brasil.

O TEAF é frequentemente confundido com o transtorno do espectro autista, sobretudo na infância, o que pode dificultar diagnósticos precisos e atrasar intervenções adequadas. Por isso, os pesquisadores destacam a importância de aprofundar os estudos sobre os efeitos moleculares do álcool no cérebro fetal humano.

Para o pesquisador Bruno Guerra, que também assina o estudo, compreender as alterações causadas pelo álcool em nível celular é essencial para avançar em estratégias de prevenção e tratamento. “Compreender a base das alterações moleculares, incluindo os problemas que são causados nas células cerebrais, ajudará no desenvolvimento de futuras terapias de tratamento para as TEAF e a esclarecer as alterações relacionadas aos processos neurobiológicos. Isso permitirá a geração de mais dados que possam auxiliar na criação de políticas de saúde pública relacionadas ao consumo de álcool por grávidas”, afirmou.

Os dados ganham ainda mais relevância diante do crescimento do consumo de álcool entre mulheres no Brasil. De acordo com levantamento do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), entre 2010 e 2023, o percentual de mulheres que consomem bebidas alcoólicas em excesso subiu de 10,5% para 15,2%. Entre os homens, a taxa permaneceu praticamente estável, passando de 27% para 27,3%. Já na população em geral, o aumento foi de 18,1% para 20,8%.

“No caso de mulheres grávidas, os riscos associados ao álcool são ainda maiores, pois ainda não há dados que indiquem se há uma quantidade segura do consumo de álcool durante uma gestação”, alertam os pesquisadores.

 

Editado por Jotta Oliveira – do Correio Goiano, com informações da Agência Brasil

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