Bartolomeu Xavier: Me explique! Talvez eu entenda

Professor e escritor Bartolomeu Xavier de Sousa Filho (Foto: Arquivo Pessoal)

No Brasil, com exceção dos apadrinhados, assessores e etc, o presidente da república, vice-presidente, governadores, deputados federal e estadual, senadores, prefeitos, vereadores além do Judiciário como um todo, são funcionários públicos, não são? Os professores das redes federal, estadual e municipal, também o são, estou errado? Baseado nisso, e sem menosprezar as demais categorias de “funcionários públicos”, gostaria de destacar, a título de comparação; os deputados federais (porque o que acontece no legislativo federal, principalmente no que diz respeito a salários e mordomias, por tabela chega aos estados e municípios) e os professores.
  
Sabemos que boa parte do legislativo federal, passou pelas mãos de professores, outra parte nem tanto, mas para chegar lá, o grau de escolaridade não conta muito. Para isso, basta ser “bom de papo” no palanque, ter um sorriso de gente honesta (nos santinhos), um grupo de interessados em algum futuro cargo, pagar para agitar freneticamente bandeiras nas ruas principais, abastecer carros e motos para fazer uma bela carreata de encerramento (com verba do fundo partidário que é bancada por nós contribuintes, é claro), fazer aquelas velhas e conhecidas promessas que fatalmente vão cair no esquecimento. Ah, pertencer a uma família renomada ou numerosa, também ajuda.

  
Falemos agora dos professores. Primeiro terão que pagar uma inscrição e enfrentar um concorrido concurso público, muitas vezes sem nenhuma garantia de que não terão concorrentes fantasmas pré-aprovados. Aqueles que forem aprovados, para tomarem posse (isso se não forem vítimas de alguma sabotagem política), terão que comprovar qualificação com documentos que atestem curso superior, pós-graduação, mestrado doutorado ou no mínimo ter concluído e ensino médio, dependendo do “nível” dos cargos disponibilizados.

  
Pois bem, se deputados federais e professores são funcionários públicos, direta ou indiretamente, aqueles que pagam os seus salários, são seus “patrões” (no caso o povo), estou errado? Então, diante disso, pergunto: porque o legislativo federal é criterioso para decidir o valor do “salário mínimo”, mas em breves reuniões podem decidir seus próprios salários, além de referendar exigências do executivo e do judiciário, sem a interferência de nenhum outro órgão ou do “patrão” que é o povo? Não só os gordos salários, mas também mordomias, como transporte aéreo e terrestre (este último não muito usado por causa do descaso com a conservação das estradas), planos de saúde um “pouquinho” melhor que enfrentar as filas do SUS, aluguéis, transporte da mudança, auxílio para se apresentarem de forma descente, mesmo sem criarem projetos importantes para o país nas poucas idas ao plenário (com raras exceções), e como se isso não bastasse, ainda exigem um “extra” para cumprir a sua responsabilidade, isso sem falar nas aposentadorias precoce ou vitalícias com apenas alguns mandatos, 14º salário, etc, etc. Mesmo assim, quando os ilustres “funcionários” visitam esporadicamente uma cidade do seu “curral eleitoral”, são recebidos festivamente por seu “patrão” (o povo) com direito a paparicos, comes e bebes, numa clara inversão hierárquica, pois o “patrão” é que deveria ter papel de destaque, por ser tão generoso.

  
Por outro lado, um professor tem que trabalhar (com carga horária máxima) por 30 anos ininterruptos em uma sala de aula (isso se não mudarem as regras com a pretensa reforma da previdência), para ver depois, em vários estados do país, o seu salário ser camuflado por bônus, vale alimentação, vale transporte, em algumas cidades, e um piso salarial nacional miserável (se formos fazer uma comparação justa da importância social dos cargos aqui em questão) e que, muitas vezes, nem é pago na íntegra. Estão ganhando bem, dizem os governantes que não veem importância na Educação. Porém, o professor ao se aposentar, não mais recebe bônus, vale alimentação ou vale transporte e o seu salário será reduzido apenas ao “piso nacional” e uma gratificação “vergonhosa” pelo tempo de serviços prestados ao estado, com os devidos descontos, é claro. Porque essa classe, tratada com respeito em outras nações, sequer tem o seu direito de greve respeitado pelos governadores e por juízes (que também são funcionários públicos), e que reagem, respectivamente com ameaças de demissões e multas altíssimas ao Sindicato da categoria, além de, através da mídia, induzir boa parte dos pais, dos alunos e da população a imputar aos professores o rótulo de baderneiros? Na visita de um político, festa, fogos e puxa-saquismo. Em uma greve de professores,  truculência, intimidação com bombas de efeitos morais ou gás de pimenta nos olhos, vindo de outra classe de funcionários públicos igualmente injustiçados, a nossa valorosa polícia.



Na política atual, principalmente a Câmara Federal, responsável por legislar, criar projetos, discutir e aprovar leis o legislador pode não ter currículo escolar satisfatório, pode até falar horrores dos “nobres colegas”, mas não dispensa as mordomias e até encontra argumentos para justificá-la sem nada fazer para mudar essa realidade. Salvadores da “Pátria” são eleitos em cada eleição com a promessa de mudança, mas a ação coordenada dos citados “funcionários públicos” de lá (os congressistas), consegue se sobrepor aos desejos dos “patrões” de cá (no caso o povo) que sequer tem a opção de não participar da escolha desses (cargos privilegiados), sendo obrigados a comparecerem às urnas para dar um tiro no escuro, pois rotineiramente, toda aquela promessa de lisura com a coisa pública pregada nos palanques, se transforma em inércia e parasitismo.



Somos um País democrático onde; “todos são iguais perante a lei” e todos são livres para dar a sua opinião, desde que essa opinião não seja considerada ofensa para aqueles que se julgam intocáveis, ainda que sejam, também “funcionários públicos”, e não estejam cumprindo com probidade as funções que ocupam. Uma democracia com leis repletas de “brechas” tornando os processos morosos e com inúmeras “rotas de fuga”, sem falar na blindagem do alto escalão. Paga-se muito para que um número excessivo de legisladores decida pelo destino dos cidadãos, e ao invés disso, se esbaldam, despreocupadamente, enquanto legislam em causa própria. Será, quando vamos ter a tão sonhada “igualdade constitucional” colocada em prática? Será quando os nossos representantes vão deixar as picuinhas partidárias apenas para os períodos eleitorais e trabalharem em prol do país? Quando deixaremos de ser vistos pelas nações prósperas como um país onde impera a impunidade e a corrupção?



Somos, de fato, um povo pacífico e resignado. Contentamos com tão pouco!...





Autor: Bartolomeu Xavier de Sousa Filho

Piranhas – Goiás – março de 2019

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